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por Eduardo Galeano,
em Bocas do Tempo, Ed. L&PM, 2010.
Há três séculos o rio fugiu dos franceses. Depois, os ingleses também não conseguiram prendê-lo. Ele nunca estava onde os mapas diziam que estava. Algum colono desenhava seu curso algum dia, e na noite daquele dia o rio escapava e se punha a correr por outros rumos.
Em 1830 foi caçado. A cidade de Chicago cresceu cravada nas suas margens, para que ele nunca mais fugisse. E no final do século dezenove, a cidade completou a civilização do selvagem obrigando-o a fluir ao contrário, e trancando-o entre altos muros de cimento.
Certa manhã da primavera de 1992, quando o rio já levava muito tempo portando-se bem, a cidade amanheceu com os pés molhados. Foi um jeito feio de acordar. O metrô transpirava, transpiravam os porões. O rio domado tinha se desatado, e não havia meios de pará-lo: brotava pelos poros das paredes, em gotas primeiro e aos jorros depois, até que avançou contra a cidade e inundou suas ruas.
Após alguns dias de combate, o rebelde foi vencido.
Desde então, a cidade dorme com um olho aberto.
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