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14 de mai. de 2009

Hortas X Grama

Por Enrique Gili

Nos Estados Unidos, a grama ocupa uma área quase três vezes maior do que qualquer cultivo de irrigação e consome um bilhão de litros de água por semana, afirmam ecologistas.

SAN DIEGO, Estados Unidos, 26 de março (IPS/IFEJ).- Um movimento por alimentos mais saudáveis cultivados no jardim de casa luta para nascer na californiana San Diego, Estados Unidos, em detrimento de tanta grama bem cuidada. Cerca de 400 pessoas assistiram este mês a conferência “Cultivando Justiça”, patrocinada pela Foode Not Lawns (Comida, Não Grama), uma organização que combina horticultura e ação política e conta com grupos no Estado da Califórnia e na costa noroeste do Pacífico, berço do movimento norte-americano de alimentos orgânicos.

Nessa oportunidade, a ala combativa do movimento pela justiça social trocou informações com chefes de cozinha sobre uma preocupação comum: o que comem as pessoas e como obtêm seus alimentos. Os participantes deste movimento encontram-se entre os californianos, apelidados de “criativos culturais”, que buscam implementar ideais progressistas, não somente pela mudança social, mas dedicando-se a curar o planeta. Muitos deles acreditam que o caminho para a recuperação ambiental começa por modificar hábitos pessoais.

“As pessoas estão famintas de informação”, disse Kate Hughes, uma das organizadoras do encontro, realizado no dia 3 de março. A conferência atraiu uma ampla variedade de moradores de San Diego: desde hippies que defendem o regresso à terra até jovens ativistas universitários que vêem uma ligação entre a dependência dos Estados Unidos do petróleo e a agricultura industrial. O horticultor Paul Maschka passou muitos anos de sua vida adulta cultivando vegetais no zoológico da cidade e hoje planta desde alcachofra até girassol em sua casa.

“As técnicas de horticultura orgânica (que não usa fertilizantes nem pesticidas químicos) não são ensinadas no sul da Califórnia”, disse Maschka. O conhecimento direto ele obteve em hortas de Santa Cruz e San Luis Obispo – no centro e sul do Estado, respectivamente – onde essa prática está muito mais difundida. Segundo afirmou, a grama é um ambiente chato e estéril, mantido de modo artificial e dependente de químicos sintéticos.

A grama é um vestígio da Idade Média, quando a aristocracia francesa começou a transformar terras produtivas em campos para o prazer, explicou o ativista. Mais tarde, em uma Inglaterra enlouquecida pela jardinagem, gerações de burgueses exibiam sua nova riqueza plantando roseirais e luxuosos jardins. A tendência ainda pesa sobre a classe média do século XXI, dona de imóveis e disposta a gastar centenas de dólares na manutenção da grama. Segundo um estudo de impacto econômico, publicado pela Universidade da Flórida em 2002, os cuidados com jardins e a indústria da grama geraram US$ 57 bilhões anuais e empregaram mais de 800 mil pessoas.

Por meio de imagens aéreas e tiradas por satélites, pesquisadores da Agência Aeroespacial Norte-Americana calcularam que cerca de 162 mil quilômetros quadrados do país estão cobertos de grama, quase três vezes mais do que a superfície ocupada por qualquer cultivo de irrigação. A grama consome cerca de um bilhão de litros de água por semana nos Estados Unidos, suficientes para regar 327 mil quilômetros quadrados de vegetais orgânicos. Segundo Maschka, a grama aparenta vitalidade, mas para mantê-la mata-se microorganismos que ajudam as plantas a crescer. Recebe dez vezes mais pesticidas e herbicidas do que os cultivos comerciais.

“As coisas têm de mudar”, disse Issa Esperanza, filha de pais missionários, criada na América Latina, onde subiu em árvores e colheu sua própria fruta e verduras. Desde que voltou aos Estados Unidos depende de seus amigos ecologistas e de mercados agrícolas próximos para conseguir suas verduras. Ron Oliver, chefe do Marine Room, um dos restaurantes mais destacados de San Diego, baseia seu negócio em satisfazer as pessoas. O restaurante depende em grande parte dos produtos cultivados na área e da colheita orgânica da fazenda Blu Sky, de aproximadamente 16 hectares, onde alimentos e misticismos “New Age” andam de mãos dadas.

Ali, moradores e voluntários se consideram responsáveis pela terra. Frutas e verduras são cultivadas de acordo com a época do ano e sem produtos químicos. Oliver afirma que teve sua própria “revelação alimentar” quando seus filhos chegaram à idade escolar. As merendas escolares seguem pautas baseadas mais na ingestão de calorias do que no valor nutricional, afirma. Por isso decidiu buscar apoio para construir uma horta na escola primária Chula Vista, onde seus filhos estudam. “No mínimo, a horticultura os ensinará a ter paciência”, afirmou. Oliver acredita que as pessoas votam com seus garfos e que, se lhes der oportunidade, vão preferir o orgânico.

* Este artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em conjunto pela IPS (Inter Press Service) e a IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais). 

LINKS EXTERNOS

Comida, Não Grama
http://www.foodnotlawns.com/



Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Envolverde/Terramérica)



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